sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Futebol sergipano no inferno dantesco

O futebol sergipano pode ser comparado ao inferno criado pelo italiano Dante Alighieri. O livro “A divina comédia”, dividido em “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso”, foi escrito entre 1304 – 1321 e narra a epopéia imaginada pelo autor e Virgílio, poeta romano clássico que viveu antes de Cristo. Eles passam por situações de superação em um universo catastrófico do Inferno e se deparam com pessoas traidoras, luxuriosas e responsáveis por todas as mazelas do mundo. E com alguns inocentes também. Mas no futebol sergipano, essa história de superação está longe de acontecer.

Com uma temporada péssima, os dois maiores times do Estado, Sergipe e Confiança, ficam à parte das principais competições. O Confiança foi eliminado do Campeonato Brasileiro da Série D, junto com o River Plate - o Sergipe nem participou -, e também deram adeus às chances de classificação no Campeonato do Nordeste. O Mais Querido encontra-se na lanterna e o Dragão, que não cospe fogo algum, está em 12° lugar.

E se na obra de Dante os personagens precisaram ultrapassar nove círculos – etapas do inferno criadas pelo escritor – para sobreviver, os clubes sergipanos também têm nove círculos para vencer.

O primeiro círculo é a falta de oportunidades estruturais para financiar os times do Estado. Sem uma política econômica sólida, empresa alguma terá interesse em estampar seu nome nas camisas dos clubes daqui. Nem Norcon, nem Celi, nem nada.

No segundo ‘andar’ do inferno, existem as destruídas e abandonadas sedes dos clubes que deixam a desejar em suas estruturas. O local de treino do Confiança, por exemplo, dá até pena.
Podemos visualizar no terceiro círculo um incoerente projeto de formação de novos talentos Ou melhor, os times vendam os olhos para os garotos. Muitos jovens estão nas categorias de base do Cruzeiro, por exemplo. Mas e aqui? Cadê?

O quarto círculo serve para algumas pessoas específicas, como Milton Dantas, presidente do Confiança e Carivaldo, presidente da Federação Sergipana de Futebol – FSF. É nesse nível do inferno que, segundo Dante, vivem os pródigos e avarentos, aqueles que são sórdidos ao dinheiro. Não precisa dizer mais nada.

No quinto nível, coloco os torcedores que abandonam os times nas horas mais difíceis. E atribuo ao sexto círculo os torcedores que, apesar de todos os problemas do futebol, teimam em menosprezar os principais times do Estado. Clubes com história e tradição, mas que infelizmente encontram-se nesse estado.

Os pecadores que foram culpados justamente ou injustamente encontram-se no sétimo andar do inferno. Coloco ai jogadores renomados e veteranos que não renderam o suficiente e decepcionaram em suas aparições pelas terras sergipanas. A exemplo de Beto que, com ou sem pecado, não contribuiu em nada com suas atuações. Deu uma de ‘barqueiro’, ou seja, colocou o nome acima da postura profissional. E de jogador barqueiro Sergipe ta cheio. Trocam treinos por baladas e esquecem das responsabilidades. Culpa do jogador? Em grande parte, sim.

É no penúltimo círculo que, segundo Dante, existem os violentos. E por isso insiro alguns torcedores das organizadas do Estado, estes que rebaixam ainda mais o futebol daqui. Enfim, no último circulo estão alguns profissionais da imprensa que criam falsos ídolos e iludem o coração do torcedor apaixonado, além de atribuírem a qualquer jogador o status de salvador da pátria. Carente de ídolos, esses jornalistas criam um falso futebol, com técnicos e jogadores virtuais. Além disso, se vê uma exaltação aos times do Sul e Sudeste do país, como se fossem Deuses que precisam ser idolatrados.

Todo esse desastre pode ter solução? Em tese sim, mas é necessária uma reviravolta muito grande em questões que demandam bastante tempo. É uma reestruturação que precisa de articulações bem definidas por parte do Estado, das empresas privadas e, principalmente, de novos gestores do futebol. Se até Dante Alighieri e o poeta Virgílio, depois de muito sofrimento, superaram as desgraças do Inferno para chegarem ao Paraíso e vislumbrar um final feliz, por que nosso esporte também não superaria? Vamos sair da posição de pior futebol do Nordeste e voltar a uma colocação digna das tradições futebolísticas de Sergipe.

Um comentário:

  1. Antes de tudo eu preciso dizer que amei a ponte que você construiu entre a literatura e o futebol. Para mim, a leitura ficou muito mais atraente devido às referencias, e eu creio que você conseguiu, de uma forma dinâmica e pouco convencional, oferecer um panorama da situação atual do futebol aqui no estado. Até eu fiquei um pouco mais interessada. ;)

    Acho que vou virar visitante regular do seu blog. Esse texto me conquistou. ;)

    ResponderExcluir

Search