sábado, 7 de novembro de 2009

ENCLAUSURADA E SEGREGADA

“Podem ter certeza que a seleção que disputará a Copa no ano que vem será a mais fechada da história do nosso futebol. A imprensa terá muito menos liberdade para trabalhar. E não tem nada a ver com a África do Sul. Em Weggis, a liberdade foi total e todo mundo reclamou da bagunça. Então vamos fazer diferente desta vez”.

Foi com essa declaração que o Presidente da CBF Ricardo Teixeira deixou atônito toda a imprensa e a torcida sobre a disponibilidade de cobertura de notícias para a Copa do Mundo de 2010, que será realizada na África. O motivo: a excessiva liberdade dos meios de comunicação durante a preparação do Brasil em Weggis, na Suíça, para a Copa ocorrida em 2006, na Alemanha. Segundo o Presidente, esses fatos prejudicaram o rendimento brasileiro dentro de campo durante toda a Copa, e principalmente a partida contra a França nas quartas-de-final.

Mas o torcedor sabe que fatores técnicos e táticos também contribuíram para o péssimo rendimento da seleção Canarinho na Alemanha. O próprio Treinador Carlos Alberto Parreira afirmava à época que o Brasil jogava com 4 atacantes, sendo Kaká e Ronaldinho Gaúcho como meio-campistas. A conseqüência disso foi um time forte ofensivamente, porém desentrosado. O setor defensivo contava apenas com 2 zagueiros fixos, Lúcio e Juan, além de Emerson como volante, que fazia às vezes a função de terceiro defensor para equilibrar os avanços dos laterais Cafu e Roberto Carlos. Zé Roberto ficava fora do chamado ‘Quarteto Fantástico’, composto por Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano. No papel, era um time de craques, mas sem vontade de vencer.

A voz do povo

Em seus 7 anos trabalhando como porteiro no Condomínio Vênus, Cícero Farias, 32 anos, sempre assistiu aos jogos pela TV coletiva de 14 polegadas ao lado dos seus amigos de trabalho, com sistema de televisão fechada, em que todos os funcionários dividem os gastos para poderem usufruir de canais como Sportv e Espn. Atualizado sobre as declarações do Presidente da CBF e das expectativas para a Copa na África, o trabalhador concedeu esta entrevista.

Com um pouco de receio em conversar, Cícero Farias afirmava com grande humildade que não entendia muito sobre futebol. Apenas pura ilusão. Enquanto encontrava-se em sua pequena guarita, observando as câmeras e o tráfego do condomínio, Cícero Farias respondia às perguntas de forma leve e consciente.

Lucas Peixoto – O senhor acha que o maior erro da seleção brasileira na copa do mundo em 2006 foi conseqüência da pressão exercida pela imprensa e torcida sobre o elenco?

Cícero Farias – Eu acho que a pressão da torcida e imprensa atrapalha, pois o jogador fica sobrecarregado emocionalmente, sentindo-se cobrado. Mas por outro lado, a torcida pode ajudar se ela for compreensiva e não atrapalhar. Se ela apoiar o time nos treinos de forma saudável, isso pode ajudar dentro de campo.

LP – Mas muitos dizem que o Brasil jogou mal tecnicamente, principalmente contra a França. Além da pressão da imprensa e torcida, faltou algo mais àquela seleção?

CF – Faltou força de vontade e mais futebol ao Brasil, mesmo com um time de craques como Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Adriano e Kaká.

Quando perguntado sobre os possíveis favoritos à conquista da Copa 2010, o jovem Cícero parou por alguns segundos enquanto pensava em uma resposta. Foi quando apontou Itália e Alemanha. “Se tivesse que escolher uma terceira equipe, colocaria na disputa o Brasil”, afirmou Farias.

Quando perguntei sobre deixar a Espanha, atual campeã da Eurocopa 2008 sobre a Alemanha, fora da disputa, o porteiro objetou-se: “Mas foi só naquele momento. Para mim, as seleções pequenas podem surpreender ano que vem e tirar o título dos times tradicionais. Já estão mostrando sua força nas Eliminatórias Européias e podem dar muito trabalho às grandes seleções”.

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